segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A suspensão dos alvarás para edificações acima de 3 pavimentos: uma ação municipal que deve ser ampliada


Por Lino Peres

 

É significativa a medida de suspensão dos alvarás, para edificações acima de 3 pavimentos ou de menor altura, tomada pelo Executivo Municipal em janeiro de 2013. Destaco a importância social e urbana das medidas que o novo prefeito da Capital, Cesar Souza Júnior (PSD), anunciou e que analiso parcial e brevemente abaixo. Entre as 15 medidas, destaco a revisão de alvarás de licenças concedidos e consultas de viabilidade aprovadas no período que menciona. No dia 8 de janeiro, o prefeito de Florianópolis assinou os decretos que determinam a suspensão da emissão de alvarás de construção pelo período de três meses, prorrogáveis por mais três, na Capital. A medida vale para prédios com mais de três andares ou com área superior a 2 mil metros quadrados.
Com relação ao prazo de suspensão dos alvarás por três meses, se comparada às ações de administrações anteriores, é uma medida relevante e que fez parte dos programas de campanha de coligações mais à esquerda do espectro político das últimas eleições.
Este gesto é mais evidente quando, na lista, inclui-se o alvará da construção do hotel na Ponta do Coral, que o prefeito anterior, Dário Berger, liberou no apagar das luzes de sua gestão. Em uma cidade em que a especulação imobiliária é muito intensa e que o turismo está ligado à expansão imobiliária, a medida é de impacto e já causou reação por parte do setor empresarial, como o Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil de SC) e também da Acif (Associação Comercial e Industrial de SC).
Por outro lado, considerando que a elaboração do Plano Diretor, atualmente em revisão, precisa ter garantido o quadro urbano no qual se baseia, é fundamental que este prazo seja ampliado e que o exame dos alvarás e outras medidas restritivas seja vinculado ao período de conclusão do Plano Diretor. Caso esta medida não for implementada, o PD corre o risco de ficar defasado quando for implantado.
Outro aspecto é que o Executivo Municipal deve ampliar a composição da Comissão encarregada de examinar os licenciamentos. Embora seja meritória a escolha do Ministério Público e do Instituto dos Arquitetos do Brasil – Seção SC (IAB-SC), sendo que esta categoria de profissionais é a que mais está ligada ao planejamento urbano, o que demonstra lisura no processo, deveriam ser convidados algumas entidades diretamente relacionadas ao desenvolvimento urbano da cidade, como representantes do Núcleo Gestor Municipal do Plano Diretor Participativo, a OAB-SC (Ordem dos Advogados do Brasil, que tem comissões sobre mobilidade urbana e outras de cunho social; grupos técnicos independentes e acadêmicos das Universidades - como da UFSC, que tem contribuído para o Plano Diretor Participativo - e outros setores da sociedade. Destaco que estas entidades não têm, por princípio, interesse imediato nas medidas adotadas, ao contrário de setores da construção civil.
O exame e a avaliação da atuação dos órgãos de fiscalização da prefeitura devem ser objetos desta Comissão ou de outra a ser constituída, pois os alvarás e licenciamentos passam pelo conhecimento daqueles órgãos, assim como sua implementação. Uma demanda antiga da sociedade e dos próprios técnicos da Prefeitura é que estes órgãos sejam ampliados e reestruturados, como a prometida medida do atual prefeito de reestruturar o Instituto de Planejamento urbano (IPUF), tão necessária e urgente. É preciso reverter o sucateamento que este órgão enfrenta nos últimos anos, com a não reposição de vagas por aposentadorias, diminuição de sua função na área do planejamento urbano e desvio de sua atribuição para outros órgãos.
Mas há riscos sérios de que estas medidas fiquem comprometidas, pelas seguintes razões:
a) a natureza predominantemente conservadora das forças políticas e partidárias que compõem o novo governo municipal, sendo que algumas delas já governaram a cidade e, ainda que tenham realizado obras e ações significativas para a Capital, são responsáveis por grande parte dos problemas que Florianópolis enfrenta, como o modelo rodoviarista adotado há décadas e sua correspondente infraestrutura de obras viárias. Até hoje, por exemplo, não se investiu seriamente no transporte coletivo e público de massa, incluindo o modal marítimo;
b) as ações podem ser, como temos assistido em boa parte das administrações municipais no país, impedidas ou diminuídas em sua eficiência pela pressão econômica e política dos atingidos pelas medidas restritivas. E é aqui que reside o perigo maior: estas ações tornarem-se moeda de troca ou serem anuladas por pressão política e econômica. Até hoje ainda não foram apuradas definitivamente as acusações relacionadas à Operação Moeda Verde.
No entanto, pelo que anunciou o programa de governo do prefeito César Souza Jr, espera-se que esses riscos sejam contornados, pois as medidas são centrais para a Capital, mas em áreas em que há muita influência política e econômica. Portanto o novo prefeito, ao iniciar e aprofundar essas medidas, deve ouvir as organizações e movimentos sociais em suas reivindicações e abrir efetivamente espaço a elas na gestão da cidade. Se a atual administração realmente colocar as propostas em prática, não as reduzindo a discursos ou encenada participação social, a cidade a apoiará, como se comprovam nas manifestações positivas exibidas nas redes sociais.




 

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