Confirmou-se na noite de ontem a avaliação do mandato e também dos
movimentos sociais organizados de que o processo de votação do projeto do Plano
Diretor seria atropelado, ferindo não somente a legislação federal, que garante
o controle pela população, como o Estatuto da Cidade e a Resolução 25 do
Concidades, e também o Regimento Interno da Câmara de Vereadores.
É preciso analisar um ponto fundamental, o acesso, pela sociedade,
e garantido na Lei da Transparência, às informações para compreender o que está
sendo votado.
- As emendas, fundamentais, para se ter clareza da totalidade do
Plano, só foram colocadas no site da Câmara após muita cobrança e, mesmo assim,
não estão em local visível. É preciso entrar no site em DOWNLOADS/Arquivo de
documentos, depois Plano Diretor, depois Anexos.
- Para a criação de emendas, não se fez consulta a órgãos públicos
como Casan, Celesc, Floram e a setores da prefeitura ligados ao sistema viário
e obras. Essa consulta é fundamental para se verificar tecnicamente se o
conteúdo da emenda é viável ou não.
- O Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF)
entregou somente ontem uma tabela em Excel, apontando sim ou não para as
emendas dos vereadores, sem a devida justificativa. Para avaliar essa tabela, o
presidente César Faria suspendeu a sessão por cerca de uma hora e meia no
total. É um disparate interromper a sessão para analisar um elemento que é
fundamental para a votação e deveria ter sido divulgado com antecedência e de
forma pública.
- A solicitação de nosso mandato e dos vereadores Afrânio, Pedrão
e Matheus para que a sessão fosse adiada com o intuito de analisar essa tabela do Ipuf
foi votada e perdeu por maioria. Nosso mandato e o do vereador Afrânio
igualmente requereram Audiências Públicas após a devida análise do PLC, das
emendas e da tabela, mas esse requerimento também foi negado.
- Solicitamos votação de 2/3 também para as emendas, como
acontecerá na votação do projeto, mas ela ocorreu por maioria absoluta (12
votos aprovam uma emenda, mas, no projeto do Plano Diretor em si, o Regimento
garante 2/3, ou seja, são necessários 16 votos para aprovação).
- Na sequência, vários encaminhamentos de votação, que permitiriam
a análise de tantos elementos novos no processo, foram sistematicamente
negados. Além disso, o Regimento Interno foi ferido em vários pontos e,
igualmente, mostrou sua fragilidade, já observada por nosso mandato, que há
meses solicita revisão urgente no Regimento.
- O ápice desta lamentável demonstração de autoritarismo por parte
da presidência da Câmara, sem protesto da ampla maioria dos vereadores, iniciou
quando foram votadas as emendas relativas à Ponta do Coral. Não houve
possibilidade de debate adequado sobre o tema, porque foi permitida apenas uma
fala por bancada, o que reduz a qualidade do debate.
- A emenda que pretendia passar o local para Área Verde de Lazer,
que apoiamos, foi derrubada por 12 votos a 10. Em seguida, foi votada a emenda que
permitia a construção de um hotel de até 16 pavimentos, recebendo 21 votos
contrários. Foi aprovado por maioria que a Ponta do Coral seja Área Turística
de Lazer, o que permite no local a construção de até seis pavimentos,
contrapondo-se à rejeição dos 16 pavimentos.
- Na tabela do Ipuf, a maioria das emendas dos vereadores foi
negada, mas a tabela indicava apenas folha do processo e número da emenda. Já
passava das 23 horas quando o presidente César Faria iniciou uma atabalhoada
leitura de folha/número de emenda, não permitindo acesso prévio nem leitura
mais cuidadosa. O público nas galerias e os telespectadores sequer tiveram o
direito de saber a que se referia o presidente. Mesmo os vereadores tiveram
segundos para ir de uma folha a outra, em um processo de 1.533 páginas,
tentando encontrar a emenda e tomar posição para requerer destaque ou não.
Foram inócuas as solicitações para barrar esse absurdo.
- Esse blocão de emendas rejeitadas pelo Ipuf foi colocado em
votação, depois dos destaques, sendo que a marcação de hora nos computadores
dos vereadores registrava 00:02. A sessão deveria encerrar à meia-noite, mas o
presidente César Faria insistiu na votação alegando que faltavam 2 minutos para
a meia-noite, sob protestos de quem estava nas galerias, do nosso mandato e do
vereador Afrânio. Foram assim rejeitadas 136 emendas, e os destaques serão
votados hoje.
- O projeto do Plano Diretor não teve tratamento especial,
conforme era nossa solicitação desde o início do mandato. A sessão de ontem
incluiu homenagens e projetos para concessão de honrarias, o que levou a
apreciação do projeto, pareceres e emendas ao Plano Diretor – aqui somadas duas
interrupções – a iniciar por volta das 20 horas.
- A ampla maioria dos vereadores não se manifestou, em nenhum
momento, sobre o conteúdo do projeto, dos pareceres e das emendas. As emendas
foram feitas sem tramitação especial, sem debate, sem rito adequado, e em função
da demanda para fazê-las, cinco sessões da Câmara foram abortadas semana
passada e na outra.
- A sessão do ontem foi televisionada, depois de muitas sem que
isso ocorresse, mas não se sabe se hoje, segundo dia de votação, haverá
transmissão para o público que tem TV a cabo.
- Um vereador ficou irritado com uma manifestação nas galerias e
saiu do plenário para ir tomar satisfação. Salientamos que todos os elementos
listados acima, somados ao ambiente confinado onde ficam os vereadores,
separados das galerias por um vidro espesso, é que tem produzido, na cidade, um
forte e legítimo sentimento de frustração e indignação que ontem se expressou
na Câmara. Todo este episódio revela o que tem sido a ausência de debate mais
estreito com a população, porque, em Audiências Públicas,
é possível um diálogo mais aberto, no qual a população poderia, de fato, ouvir
e ser ouvida pelo Executivo e Legislativo.
Vereador Lino, seria interessante a gente ter uma visão da cidade futura, daqui 10, 15 anos, a partir deste plano diretor que acaba de ser aprovado.Isso poderia servir de documento de valor histórico para daqui a 10 ou 15 anos poder cobrar destes ditos representantes do povo que se omitiram ao debate com a população preferindo o conchavo com o executivo. É importante, nesse sentido, em um futuro poder cobrar, invertendo a lógica da memória curta do povo, que daqui a pouco não lembra mais e os responsáveis ficam impunes como aconteceu no passado, onde prefeitos e vereadores continuam sendo reverenciados como ilustres cidadãos.
ResponderExcluirPrezado Pedro, tens razão. Mas avalio que foi justamente a falta de uma visão de futuro que levou a essa desastrosa aprovação. Mas iremos fazer uma análise de como o plano irá impactar as diversas regiões da cidade, o que disponibilizaremos em breve.
ResponderExcluirLino