É incompleto porque faltaram
informações fundamentais e estruturantes para um Plano Diretor. Os 13 mapas
apresentados tinham cartografia insuficiente, sem definição exata, por exemplo,
das áreas que podem ou não ser urbanizadas, áreas de risco ambiental, estágios
de crescimento da vegetação, declividade, macro-drenagem, projeção de luz e
sombra, mapeamento de pontos notáveis da paisagem, entre outros. Isso tudo é
necessário porque este conhecimento é que dá subsídios imprescindíveis para que
se possa planejar a cidade, evitar urbanização em áreas de risco, prevenir
inundações e deslizamentos, proteger a paisagem da ilha e do entorno marinho e
continental e evitar uma “arquitetura doente”, com edificações sem luz solar,
sombreamento inadequado, sem controle acústico e com ventilação excessiva.
A prefeitura, além disso, não
apresentou vários mapas que - alegou no projeto -, estarão em planos
específicos futuros, como a das condicionantes ambientais, mapa de localização
de serviços públicos e privados, de distribuição de investimentos públicos,
macro-drenagem, diagnóstico da infra-estrutura de saneamento e viária para os
próximos 20 anos, necessária ANTES da liberação de gabaritos (número de
pavimentos), e plano metropolitano de mobilidade, diagnóstico das áreas
públicas a serem destinadas a equipamentos coletivos e áreas de lazer. Esse
levantamento teria que incluir as áreas da União, dentro
de sua diretriz de destinação social e pública destes terrenos. Todos esses mapas deveriam ter sido
feitos ANTES e estarem no projeto do Plano Diretor.
Falta
de precisão
Essa falta de precisão gera uma cegueira
em relação ao crescimento/desenvolvimento da cidade. A ausência de um Projeto
de Desenvolvimento Urbano (PDU), para além do Plano Diretor, é gritante. Esse
Projeto de Desenvolvimento Urbano está para além de um plano
físico-territorial, que é vulgarmente entendido como Plano Diretor. O PDU diz
como a cidade deve se desenvolver social, cultural, ambiental e economicamente.
Ele deve promover uma
redistribuição mais adequada entre habitação, serviços, áreas públicas e
infra-estrutura urbana, evitando que ambos se concentrem demais em uma região e
outras fiquem descobertas.
O Plano aprovado no dia 27 é fragmentado,
porque reflete e acolhe múltiplos interesses e elimina muitos outros. O
problema é que isso ocorreu sem transparência, de forma açodada e sem visão
integradora e compartilhada/coletiva da cidade. O pouco que se avançou na
perspectiva de uma cidade sustentável ocorreu em função da resistência de
distritos organizados e movimentos sociais e ambientalistas que, principalmente
desde os anos 1990, se organizam para debater a cidade e como ela vai ficar
daqui para a frente.
Essa fragmentação também ocorrerá, por
exemplo, no distrito do Rio Vermelho. Ali há problemas como ruas estreitas e
exageradamente longas, de até um quilômetro de extensão, sem ruas transversais
e sem serviços locais. Há alagamentos em vários locais, a rodovia principal não
tem acostamento e tampouco faixa para passeios ou ciclovias, é muito insegura e
perigosa, e o distrito também não tem transição entre áreas de preservação e de
urbanização. E como o dito Plano Diretor aprovado enfrenta isso?
Ele somente limita as edificações em dois
pavimentos na maior parte da região, o que é importante para evitar o
adensamento excessivo, mas falta um plano urbanístico para corrigir todos os
problemas apontados e inverter, para o futuro, esse caminho extremo de
precarização urbana e ambiental.
É nesse sentido que o nosso mandato tem
insistentemente criticado a nomeação de ruas, pela Câmara de Vereadores, e não
pelo Executivo, sem que antes a prefeitura faça um plano urbanístico sério.
Processo
participativo em ruínas
A aprovação do Plano Diretor no dia 28
deixou em ruínas o que restou do processo participativo. Muitas votações de
destaque se basearam em uma tabela malfeita do IPUF, sem a devida fundamentação
para manter ou não emendas.
Agora haverá o retorno do projeto ao
Executivo, que poderá fazer vetos totais ou parciais. Mas, como não houve
autonomia dos vereadores para analisar o projeto a fundo e como as emendas já
foram filtradas pelo IPUF/PMF, é provável que o Plano Diretor seja aprovado sem
vetos, e a próxima sessão, dentro de um mês, seja novamente marcada pela
prática de “rolo compressor”.
Ainda hoje vamos iniciar uma análise
crítica para o mais rápido possível ter um quadro de como ficará a cidade, e
expor ao Ministério Público tudo o que foi feito de irregular no processo.
Esclarecemos que nosso voto foi contrário
porque, apesar de alguns avanços, como restrição de gabaritos em algumas
regiões e a incorporação, à “cidade legal”, de assentamentos de populações
empobrecidas (ainda que com problemas de infra-estrutura não resolvidos), é
preciso considerar todos os aspectos acima levantados. O projeto não tem
unidade conceitual, metodológica e técnica. Há uma ausência de implementação
efetiva de instrumentos urbanísticos e de controle e participação social.
A prefeitura fez a população acreditar,
com seus discursos veiculados na mídia, que o plano diretor vinha sendo
discutido desde 2006. Genericamente, sim, mas de forma fragmentada e
interrompida entre início de 2009 e final de 2011 e desde o final do primeiro
semestre de 2012 até setembro passado. De fato, desde 2006, debatem-se três
projetos, dois da administração Berger e agora um da administração atual, o
qual FOI APRESENTADO SOMENTE EM SETEMBRO PASSADO.
Portanto , ESSE projeto aprovado quarta foi conhecido e mal
debatido dois meses e aprovado em dois dias. Mas a história da prefeitura
convenientemente colou.
O fato é que o plano ainda vigente, de
1997, teria sido mais eficaz se houvesse efetiva fiscalização da prefeitura,
com servidores contratados, equipamentos, monitoramento, relação com as
comunidades, além de quadro técnico de planejamento estável e adequado no IPUF
para essa função, porque o órgão, na administração anterior, foi sucateado. Sem
isso, qualquer Plano Diretor, o de 97 e o que foi aprovado dia 28, não tem
sequer os pequenos avanços garantidos.
Agradecemos as palavras de apoio e
reconhecimento que temos recebido sobre o trabalho de divulgação da tramitação
deste projeto. Em breve o mandato irá divulgar um estudo sobre como ficará a
cidade a partir do que foi aprovado no dia 28 na Câmara de Vereadores.
Sobre a participação social, leia mais em http://professorlinoperes.blogspot.com.br/2013/11/atropelo-e-autoritarismo-marcam-inicio.html
Sem o Núcleo Gestor para fazer o controle social em nome da comunidade que representa, deu no que deu. Enxurrada de emendas que transformaram a leitura comunitária num Frankstein com cara de dinheiro. A essência do Plano Diretor que imaginamos coletivamente,seu aspecto democrático, republicano e participativo foi para as calendas. Mas a luta continua e é da maioria, queremos uma nova governança pra Florianópolis.
ResponderExcluirLuiz Cezare Vieira
E os vereadores que assinaram duas vezes alguns documentos? Eles não deveriam ser caçados e até mesmo punidos por fraude? Isso ali não foi acidente não, é coisa de gente má intencionada mesmo! Se possível, aguardo sua resposta. Obrigado! Parabéns pela seriedade e pela luta por Florianópolis!
ResponderExcluirCaro, agradecemos suas palavras.Estamos avaliando as implicações jurídicas e já entramos com duas ações recursais por atos que infringiram o regimento da Câmara. Assim que houver resposta, divulgaremos. Houve muitas ações que de fato desrespeitaram o regimento, o Estatuto da Cidade e a Resolução 25 do Concidades.
ResponderExcluirUm abraço, Lino P.