Professor de
Arquitetura e Urbanismo, pesquisador na área de Planejamento Urbano,
representante da UFSC entre os anos de 2006 a 2012 no Núcleo Gestor, vereador
(PT)
Ao tomar para si as decisões sobre o Plano Diretor Participativo (PDP), o Executivo Municipal retirou o Núcleo Gestor do PDP da Coordenação do processo, ferindo os princípios do Estatuto da
Cidade (Lei 10.257/2001) e de Resolução do Ministério das Cidades, revelando autoritarismo, desrespeito e dificuldade de lidar com instâncias organizadas a
partir dos debates e demandas das comunidades. A Resolução nº 25/2005, do MCidades,
estabelece que o processo de elaboração, implementação e execução do Plano
Diretor deve ser participativo, e que sua coordenação precisa ser compartilhada
com o poder público, por meio da ampla e efetiva participação da sociedade
civil organizada, em todas as etapas do processo.
As
reuniões e oficinas que estão ocorrendo nos bairros e distritos revelam que
dúvidas e questionamentos levantados por lideranças e moradores não são
devidamente respondidos por arquitetos e técnicos da Prefeitura. Evidencia-se,
por um lado, a carência de formação em planejamento urbano e de experiência em
processos participativos; por outro, a falta de documentos nas apresentações,
como mapas e planos complementares, fundamentais para se planejar a cidade como
um todo.
A atual
Administração não só reproduz problemas metodológicos de condução das
discussões do Plano Diretor da Administração anterior, como os agrava, no
sentido de impor um cronograma de entrega do Anteprojeto de Plano Diretor a
todo custo à Câmara Municipal de Florianópolis. O atual prefeito municipal ignora,
com isso, o que o anterior estabeleceu, diante dos Ministérios Públicos Federal e
Estadual, na reunião de retomada do Núcleo Gestor em novembro de 2011, de se
garantir a coordenação deste processo ao Núcleo Gestor Municipal do Plano
Diretor Participativo. Uma das principais atribuições do NGM é justamente a definição da metodologia e do cronograma de elaboração e definição do Plano Diretor. Agora, essa atribuição, por uma decisão unilateral, ficou exclusivamente da Prefeitura.
As oficinas feitas até
agora, a toque de caixa, não dão conta da participação prevista em lei, porque o Núcleo
Gestor, com discussão acumulada desde 2006, é que conduzia as reuniões e os
encaminhamentos a serem levados às populações dos distritos, para depois, em Audiências Públicas Distritais, serem
aprovados os conteúdos debatidos,
como foram as que ocorreram em 2008, e que são até hoje as que oficialmente
valem, mas agora desconsideradas no cronograma do PD em curso. O calendário de
atividades do Plano Diretor implementado pela Prefeitura Municipal é inviável
na medida em que realiza mais de 40 reuniões, em bairros e distritos, em pouco
tempo, culminando com uma conferência municipal (sem definição se será
deliberativa) a ser realizada no dia 17 de outubro, com entrega do anteprojeto à
Câmara Municipal.
A forma
de agir da Prefeitura impossibilita o amadurecimento das propostas e impede que
a população possa se manifestar a partir da experiência comunitária e técnica
já acumulada sobre o assunto, demonstrando, portanto, que é necessário mais tempo
para as discussões.
Florianópolis,
travada em seu cotidiano pelas consequências de décadas de intervenções
urbanísticas desastradas, pode agora, talvez sem outra chance, corrigir o rumo.
O Plano Diretor é o instrumento fundamental para isso. Mas outra decisão é
urgente: que a Prefeitura ouça quem, também há décadas, alerta para os
problemas já instalados e os que estão por vir. O caminho é de desastre se a
Capital catarinense continuar a ser tratada prioritariamente como mercadoria
paisagística, e não como lugar de experiência de vida para seus moradores e
visitantes.
A participação é um instrumento importante na transformação das cidades, na medida que possibilita dar resposta aos anseios dos cidadãos. Planos participativos possibilitam não apenas melhores projetos mas a implementação de planos diretores ao longo do tempo. A participação cidadã incorporada aos processos de implementação urbana contribui à uma gestão cidadã responsável.
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