Florianopolis na CONTRAMÃO dos
Prefeitos das principais capitais do Brasil!
Por Ci Ribeiro (arquiteto e urbanista e militante da Reforma Urbana e do Movimento PONTA DO CORAL 100% Publica!)
Todos nós, moradores de Florianópolis, sabemos e a imprensa nacional nunca escondeu que Florianópolis tem um dos maiores custos de vida do Brasil. Todos sabemos que a ganância dos grandes empresários dos setores de comércios e serviços da capital, aliados dos especuladores dos setores imobiliários e da construção civil (predadores do Meio Ambiente, da Paisagem e Estrutura Urbana – além de servirem para legalização e lavagem de dinheiro da corrupção e operações criminosas), das redes de hoteis e restaurantes (que pagam os menores salários com carteira assinada), inflacionam a economia local, apostando todas suas fichas nas parcelas de consumidores da chamada indústria do Turismo, que busca atrair cada vez mais público nacional e internacional em períodos sazonais, sem qualquer compromisso com os micros e médios estabelecimentos de comércio e serviço locais, a renda e qualidade de vida da população no dia-a-dia dos 12 meses do ano, que sustentam a economia do município.
Esta
lógica é infelizmente reforçada e planejada pelos gestores políticos, quando o
tempo todo procuram apresentar a cidade como uma mercadoria ao consumo e venda
aos turistas e aos investidores externos, como “terra de ninguém”, um
verdadeiro paraíso tropical a ser explorado sem restrições, o que cria
inclusive uma lógica e clima perverso de apropriações privadas e predatório da
cultura e economia tradicional local, do meio ambiente, da paisagem natural e
urbana. Isso fica muito bem caracterizado nos processos de alterações pontuais
de Uso e Ocupação do Solo nos Planos Diretores, na negação do seu controle e
gestão democrática de elaboração e aprovação do Plano Diretor, que se arrasta
desde o segundo mandato da Prefeita Angela Amin-2001/2004 (mãe do atual
vice-prefeito). Situação evidenciada de forma emblemática nas ações policiais
da Operação Moeda Verde e nos mega-projetos como o do polêmico Hotel Marina
PONTA DO CORAL.
Nesta
cultura política, a apropriação privada do planejamento, infraestrutura,
desenvolvimento urbano, serviços e patrimônio público e ambiental, para a busca
de lucros ilimitados, sem qualquer função e controle social, faz parte também
da lógica e orientação do crescimento urbano e da mobilidade urbana, que primam
pela exclusão sócio-espacial para a maioria da população e cria demandas
insolúveis de Mobilidade Urbana pela segregação funcional e sócio-espacial, e
da privatização da infraestrutura e da malha viária para o transporte
individual em detrimento do transporte coletivo de qualidade para todos. O que
existe com remediada oferta de qualidade no transporte coletivo é o Transporte
Seletivo-Amarelinho, que o próprio nome não deixa dúvidas, que serve apenas
para uma parcela seletiva a preços aviltantes, sem qualquer retorno solidário
no financiamento do sistema de massa.
Portanto,
não é de se espantar a reação do Prefeito CESAR SOUZA JR de ir na contramão dos
demais prefeitos das principais capitais brasileiras (Porto Alegre, Curitiba,
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília) que diante das
mobilizações populares rebaixaram os valores das tarifas. Isso em certa medida
se explica, porque aqui em Florianópolis e Região, as oligarquias e elites
políticas (que sustentam a aliança do atual prefeito e de prefeitos anteriores)
são inclusive acionistas diretos das empresas que operam os sistemas de
transporte público. É sob esta realidade e disputa econômica e política que
está colocado o atual impasse das mobilizações populares da TARIFA ZERO, contra
as propostas do prefeito que não quer rebaixar a tarifa, mas apenas fazer promessas
vazias de rebaixamento futuro da tarifa e melhoria no sistema com a nova
licitação, sem qualquer transparência, controle democrático social e muito
menos gestão municipal direta da oferta do transporte sem concessão ou
terceirização do serviço público.
Na
contramão da posição dos prefeitos de outras capitais, o prefeito faz
questão de ignorar fundamentos básicos que eles próprios usam quando da
redefinição dos valores das taxas e impostos municipais cobradas dos munícipes
e nas negociações salariais com o funcionalismo, qual seja, o uso de índices
oficial de inflação e da receita de arrecadação do município. Ele faz isso
ao negar o rebaixamento das tarifas sem apresentar cálculos, no chutometro,
alegando problemas financeiros das empresas, mesmo sabendo que:
1. As
empresas que operam o Transporte Coletivo são as mesmas que formam o Consórcio
que opera a COTISA-Companhia da Operação dos Terminais de Integração, que
lucram com as receitas de Lojas, Bares e Publicidades nos Terminais além das
tarifas de uso dos terminais pagas pelas empresas (eles mesmos);
2. As
empresas arrecadam grandes somas com publicidade nos ônibus sem qualquer
controle público e social de retorno no cálculo das tarifas;
3. As
empresas lucram com o Sistema Seletivo sem retorno e onerando o Sistema
Tradicional ao colocar no cálculo das tarifas o custo de combustíveis e de mão
de obra que opera o Sistema Seletivo;
4. Na
implantação do Sistema de Transporte Desintegrado, de maio de
2001 a maio de 2004 tivemos 34,06% de Inflação em Florianópolis e a Tarifa
aumentou 73,33%, segundo a ESAG;
5. Nos
últimos dez anos da Concessão Pública (2003/2013), que passou a vigorar o
Sistema Desintegrado, a inflação acumulada foi de 81,52% (INPC-IBGE -
janeiro/2003 a maio/2013), ao mesmo tempo em que as Tarifa aumentaram 133%
neste periodo. Ou seja os empresários tiveram um ganho real das tarifas em
relação ao INPC-IBGE de 28,36%;
6. As
isenções do PIS-PASEP e Cofins que decretou o Governo Federal representam 8%
dos custos das empresas;
Portanto,
enquanto não se abrir, com transparência, a CAIXA PRETA DO CÁLCULO TARIFÁRIO,
nada justifica administrativa e tecnicamente a postura intransigente do
prefeito CESAR SOUZA JR de manter os atuais valores altos das tarifas.
O que justifica sua ação é seu possível acordo com os empresários que estão
todos plácidos com o acordo de bastidores que ocorrerão na execução da “Nova
Licitação” que garantirá lucros privados pela prestação de serviço público para
as mesmas empresas operarem a COTISA e o Sistema Integrado por mais algumas
décadas.
Nos
preocupa ainda mais as atuais declarações do Secretario Municipal de
Transporte que denuncia a total falta de quadros técnicos, administradores,
economistas e engenheiros, inclusive de fiscais na secretaria. Hoje os números
de funcionários são menores do que o existente no final do antigo Núcleo
Municipal de Transporte no século passado, pois muitos se aposentaram e não
houve reposição das vagas. Isso dito deixa mais
vulnerável e incapaz a administração municipal diante das demandas
exigidas pelo Planejamento, Operação e Controle Mobilidade Urbana, e frente às
propostas, números e cálculos dos empresários.
Diante
dessas denúncias e evidências, negar a justa diminuição imediata das tarifas em
troca de promessas vazias de melhoria de serviços e rebaixamento das tarifas
com a “Nova Licitação” é apelar para a falta de memória do povo com as velhas e
mesmas promessas já feitas nos últimos 16 anos pela Prefeita Angela Amin e o
Prefeito Dário Beger que resultaram na péssima qualidade do Transporte
Coletivo. É querer passar uma borracha nos processos de lutas do Movimento
PASSE LIVRE, que historicamente vem resistindo contra a mercantilização da
Mobilidade Urbana da maioria da População. A postura do prefeito nega a Luta
Popular pelo direito pleno ao acesso aos demais direitos sociais, como
Educação, Saúde, Moradia, Alimentação, Lazer, Cultura, Esporte, Sociabilidade e
inclusive de acesso ao Trabalho, aos Serviços e Consumos privados. Direitos
estes integrantes do Direito Pleno às ofertas da Cidade a serviço de todos e
não apenas de uma minoria possuidora de carros particulares.
Por
isso exigimos que o prefeito CESAR SOUZA JR deixe de fazer discursos vazios e
demagógicos de apoio às manifestações da juventude nas ruas, e de fato reduza
as Tarifas, rumo à implantação da TARIFA ZERO, e assim saia da contramão e
assuma compromissos imediatos com a redução e com a transparência e controle
social nos encaminhamentos futuros de garantia do Transporte Público, Gratuito
e de Qualidade, pela função social da mobilidade urbana e fim do lucro privado
no setor.
Neste
momento de mobilizações populares, de denúncia das péssimas condições do atual
sistema de transporte coletivo de Florianópolis, com base nas denúncias acima e
na do Secretário Municipal e do Prefeito da até então falta de fiscalização e
controle da prefeitura sobre os atuais cálculos, é preciso que o PROCON e
Ministério Público, em defesa dos direitos coletivos da população, encaminhem
ações para a realização de Perícia nos Cálculos e Itens que compõem as Tarifas
do Transporte Coletivo de Florianópolis.
Diante
do acima exposto, para nós cidadãos, é necessário e justo mantermos as
Mobilizações de Rua, democrática, ordeira e pacífica, pela exigência de 30%
de redução nas tarifas atuais, até que o prefeito cumpra o seu papel, fruto da
eleição municipal, de defensor executivo das necessidades e Direitos Coletivos
da População de Florianópolis no Transporte Coletivo Público e da Mobilidade
Urbana.
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