A Rua Wilson Luz vai hoje até o trecho onde inicia o destaque em vermelho. Todo o destaque em vermelho indica a continuidade da rua até o mar, mas, pelo projeto, esse trecho não poderia ser construído. Se for, ele atravessa o que sobrou do manguezal no entorno do Parque de Coqueiros e abre possibilidade para edificações. Fonte do mapa: CMF - Fotos: Míriam Abreu
Análise
sobre os fatos da Sessão do dia 26 de março
da
Câmara de Vereadores que afetam a preservação do entorno do
Parque
de Coqueiros, na área continental da Capital
Assinei, com mais nove vereadores, uma proposta para a Redação Final ao Substitutivo ao Projeto de Lei 1.074/2010, de autoria do ex-vereador Gean Loureiro. O Projeto suprimia as projetadas vias SCC-25 e SCC-26, aprovadas no Plano Diretor do Distrito Sede de 1997. Em dezembro do ano passado foi aprovado, em primeira votação, um Substitutivo ao projeto que suprimia a via SCC-25.
Mas no Substitutivo ao projeto ficou, como se diz, “um bode na sala”: a
SCC-26, no Saco da Lama, que era para ser suprimida no todo, foi, no
Substitutivo, suprimida apenas no trecho que entra pela rua Max de Souza e
passa dentro do Parque de Coqueiros, única área de lazer do bairro. Da forma
como ficou, o Substitutivo permitiu o prolongamento de um trecho da SCC-26, a rua Wilson Luz, que tem
hoje uma extensão de 145 metros
e termina onde está o que restou do manguezal no entorno do Parque de
Coqueiros. Pelo Substitutivo, a rua deverá ser estendida até o mar, como mostra
o mapa em anexo, sendo que no final deste logradouro seria feita uma praça de
retorno. Isso irá praticamente comprometer a área restante de manguezal.
O Substitutivo foi baseado em parecer assinado em 5 de julho de 2012 pelo
então superintendente em exercício do IPUF (Instituto de Planejamento Urbano de
Florianópolis) e Secretário Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos, José
Carlos Rauen, junto com diretor técnico. A proposta que assinamos impedia a
continuidade da rua Wilson Luz (ver no mapa em anexo, no mapa do Google e nas
fotos), evitando a sua continuação até o mar, ou seja, a rua ficaria como está
agora.
Os vereadores que assinaram o
acordo foram: Pedro de Assis Silvestre (Pedrão), Tiago da Silva, Lino Peres, Afrânio
Boppré, Aldérico Furlan, Bispo Jerônimo, Celso Sandrini, Ricardo Camargo Vieira,
Dalmo Meneses e Deglaber Goulart e tendo posteriormente apoio, manifestado
verbalmente em Plenário, dos vereadores Edmilson Pereira Júnior e Edson Lemos.
O Substitutivo ao Projeto de Lei 1.074/2010 foi aprovado em Sessão no dia 5 de
março, por todos os 20 vereadores presentes, com base na fala, na Tribuna, do
vereador Dalmo Meneses, líder do governo e presidente da Comissão de
Constituição e Justiça.
Naquele dia 5 de março, ele
afirmou, como foi transmitido ao vivo pela TV Câmara, o seguinte: “Senhor
Presidente, Senhores Vereadores, vejo a preocupação do Vereador Pedrão, que foi
acompanhada pelo Vereador Afrânio, Vereador Ricardo Camargo Vieira, por este
Vereador, Vereador Furlan, Lino Peres, Celso Sandrini, Tiago Silva e também o
Vereador Deglaber. Se apresentar, Senhor Vereador, Presidente, o senhor sabe, qualquer
emenda, ele volta à CCJ para tramitação normal. Acontece o seguinte. Me
proponho, na Redação Final, como bem falou o
vereador Ricardo, a nós corrigirmos
e fica limitado nos 145
metros a via. Então, no parecer da Redação Final, será
contemplada Vossa Excelência e todos os senhores vereadores. E este vereador, como presidente desta
Comissão, avoco o parecer na Redação Final, que é obrigação, e vou incluir
neste parecer final as recomendações dos Senhores Vereadores. Por isso, podemos
votar com tranquilidade e será feita a
correção necessária”.
No entanto, na Sessão do dia 26 de março, ocorreram fatos que alteraram
todo o encaminhamento dado na Sessão do dia 5 de março. Além disso, é preciso
ressaltar que o tema estava previsto na pauta da Sessão do dia 27 de março, que
foi antecipada para o dia 26. Não estive presente na Sessão do dia 26, com
justificativa prévia à Presidência, pois participei do I Seminário da Cidade de
Florianópolis, na UFSC, no qual se debateu, entre outros pontos, o Plano
Diretor e a necessidade de se reafirmar o processo participativo com a retomada
dos trabalhos do Núcleo Gestor Municipal. Temos, aliás, sistematicamente
questionado esse procedimento de antecipar a Sessão de quarta para terça-feira,
porque isso prejudica a participação popular e a adequada apreciação das
matérias.
Os fatos na Sessão do dia 26 de março foram os seguintes:
1) O presidente da CCJ, Dalmo Meneses, não encaminhou a nossa proposta na
Redação Final ao Substitutivo, a qual garantiria o limite máximo de 145 metros da rua Wilson
Luz, conforme proposta assinada por vereadores
e depois votada na Sessão do dia 5 de março.
2) A Presidência colocou em segunda
votação (a primeira foi em dezembro passado) o PL 1.074/2012 com o Substitutivo,
mas deixou de mencionar a retificação da Redação Final prometida pelo vereador
Dalmo Meneses. Deve-se observar que, conforme o Regimento Interno da Câmara em
seu artigo 13, alínea k, cabe ao Presidente “anotar em cada documento a decisão do
Plenário”. Nem a Presidência nem o presidente da CCJ, o vereador Dalmo Meneses,
prestaram esclarecimentos sobre o que foi acordado na Sessão do dia 5 de março.
3) Portanto, a Redação Final do projeto, que estava na Ordem do Dia 27 e
foi antecipada para o dia 26, não contemplou a reivindicação dos moradores de
Coqueiros, que é preservar o pouco
que restou do manguezal na região. Além disso, trata-se de uma área que está na
mira de construção de grandes empreendimentos imobiliários que irão terminar
com todo este remanescente de manguezal. Há anos, as comunidades de Coqueiros, cujos
representantes estiveram no nosso Gabinete na semana passada, vêm lutando para
preservar, como o fez com o Parque de Coqueiros, o único manguezal da parte
continental de Florianópolis. Têm exercido o papel de guardiões destes
ecossistemas, para além da fiscalização oficial, que hoje tem reduzido
número de funcionários. A fiscalização pelos órgãos públicos constitui-se em
uma instância estratégica na gestão de controle e manejo de nossas Áreas de
Preservação Permanente e Unidades de Conservação, e em Coqueiros a comunidade
igualmente zela por essas áreas.
4) Além de o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, vereador
Dalmo Meneses, não ter encaminhado a Redação Final da proposta que garantiria a
preservação do manguezal, com a limitação da rua Wilson Luz, o documento com os
termos do acordo que serviu de base para este procedimento, assinado pelos
vereadores, foi extraviado na Câmara.
5) Com base no artigo 146 do Regimento Interno da Câmara, que se refere a
dúvidas sobre a Redação Final de projetos, afirmamos que deveria haver
reabertura de discussão para melhor esclarecimento da matéria. Ficou claro, na
fala de vários vereadores na Sessão do dia 26, que havia questionamentos sobre
a forma de encaminhamento da Redação Final.
Todos os fatos narrados podem ser verificados nas gravações feitas pela
TV Câmara das duas Sessões da CMF, nos dias 05 e 26/03/13. São ocorrências
graves que devem ser esclarecidas pela Presidência na Sessão desta segunda-feira,
01 de abril, aos vereadores que assinaram a proposta e que aprovaram o projeto
em segunda votação com base na promessa do presidente da CCJ.
Os
fatos aqui relatados mostram a necessidade de se regulamentar procedimentos no
Regimento Interno da Câmara que aperfeiçoem o sistema de exame e aprovação das
matérias, respeitando-se a plena independência e
autonomia frente aos demais poderes e aos grupos econômicos. Isso é fundamental
em uma Legislatura pela qual passará o projeto do Plano Diretor, ora em
processo de retomada, que exigirá extremo cuidado na Câmara, pois estará em
discussão e aprovação o caminho a ser seguido por Florianópolis na questão
urbana.
Vereador Prof. Lino Peres
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