Foram apenas 15 minutos
e estava aprovada a Redação Final do Plano
Diretor na sessão desta segunda-feira, 6 de janeiro, na Câmara de Vereadores de
Florianópolis. Apenas 3 vereadores, Lino Peres, Afrânio Boppré e Pedro Silvestre (Pedrão), se manifestaram contra a aprovação, sendo que nenhum dos que aprovaram a Redação Final,
inclusive o presidente da Casa, fez uso da palavra. Lino ainda pediu aos
vereadores que aprovaram o PL 1292/2013, do Plano Diretor, que se manifestassem
e indicassem no projeto os pontos que achavam positivos para a cidade, mas
nenhum deles pediu a palavra, nem que fosse para justificar o voto. Seguem
pontos sobre a sessão:
- Os mapas impressos
foram disponibilizados somente minutos antes da votação. A versão digital foi postada
no site da Câmara apenas depois de encerrada a sessão no final da tarde de
ontem, 6. Os mapas, em um Plano Diretor, são fundamentais porque mostram
(espacializam) o que está escrito no texto da lei. É neles que é possível ver o
tipo de uso do solo estabelecido na lei, se é residencial, comercial, área
verde... Isso coloca em xeque a legitimidade legislativa dessa votação, em se
tratando de uma peça fundamental para o futuro da cidade, como é o Plano
Diretor.
- A forma como os
vereadores, preocupados com o processo, votaram equivale a um juiz julgar sem
ver a parte mais importante e objeto central dos autos! É votar no escuro. Agora,
no caso específico do Plano Diretor, resta a via jurídica, com a apreciação do
mérito de ações que estão na Justiça. A expectativa é que o Judiciário se
sensibilize não apenas com os gastos argumentos da prefeitura, como o de que
houve “sete anos” de discussões e 1.500 reuniões. Sim, o debate como um todo do
Plano Diretor iniciou, de fato, em final de 2006, mas, repetimos, até o ano
passado o debate se concentrou na proposta do ex-prefeito Dário Berger, debate
esse feito, juntados os períodos, em dois anos, e não nos sete anos, como se
propala. A população conheceu o projeto de Cesar Souza em setembro do ano
passado, e, portanto, foram apenas dois meses de discussão (o projeto entrou na
Câmara em 18 de outubro, logo após a Audiência Pública, realizada nas vésperas).
Já na Câmara, o atropelo foi pior, com 658 emendas apresentadas pelos
vereadores, quase todas sem justificativa ou estudo técnico, tanto pela
assessoria técnica da Casa Legislativa como por parte do IPUF/SMDU, órgãos de
planejamento da prefeitura e que coordenaram a confecção do Plano Diretor, ou
melhor, zoneamento bidimensional e fragmentado.
- Em 2014 será a vez da
luta em torno dos Planos Setoriais, que deveriam estar no Plano Diretor e não
estão. Segundo o projeto, esses Planos devem ser feitos em até dois anos. São
eles 1) de Mobilidade Urbana e Transporte Integrado; 2) de Saneamento Básico;
3) de Habitação e Interesse Social; 4) de Macrodrenagem Urbana; 5) de Redução
de Riscos; 6) de Regularização Fundiária de Interesse Social e Específico. São,
portanto, Planos fundamentais para a Capital e sua população e todo o debate e
confecção destes planos específicos devem ter a participação da sociedade. Acrescente-se:
faltam ainda outros planos específicos, que também deveriam fazer parte estruturante
do projeto de lei do Plano Diretor e tampouco estão especificados como, por
exemplo, um mapa de mascaramento solar (projeto de luz e sombra das edificações
previstas e suas alturas) e um mapa de paisagem, tanto cultural e de pontos
notáveis da paisagem (vistas e lugares fundamentais que devem ser preservados).
- A
presidência da Casa, ao pautar a votação da Redação Final e abrir o horário de
fala dos partidos, ignorou todos os fatos que se passavam nas galerias e na
entrada do Plenário, onde parte da população que veio se manifestar contra a
aprovação teve a entrada barrada, sob a alegação de que as pessoas só poderiam
entrar, conforme a capacidade de lugares para sentar. Esse critério foi
apanhado de última hora, porque em votações importantes as galerias lotam, dada
a acanhada capacidade do lugar. E, na maioria das sessões, não se utiliza este
procedimento de impedimento de entrada das pessoas. Assim, apenas um pequeno
número conseguiu acesso para assistir a sessão do dia 6 de janeiro.
O mandato irá questionar
oficialmente a forma de atuação da segurança na Câmara. Pela Lei Orgânica do
município, a Guarda Municipal de Florianópolis é
para a proteção de patrimônio e orientação e fiscalização do trânsito de
veículos e das posturas municipais. Mas, na sessão de segunda-feira, a Guarda
Municipal usou, não se sabe com a autorização de quem, teaser, a arma que
aplica choques. Em Florianópolis, esse uso não é permitido pela GM. Houve
várias situações de violência dentro e fora da Câmara, o que poderia ter sido
evitado se tivesse havido uma negociação para que as pessoas pudessem entrar. Lembramos
a manifestação que estudantes fizeram pela Tarifa Zero na frente da Câmara no
início de 2011, quando a presidência da Casa à época foi sensível ao pleito e,
com a participação deste vereador, em exercício como suplente, conseguiu-se não
só que os estudantes tivessem acesso à parte pública do plenário, como que dois
estudantes deste movimento falassem por 15 minutos na Tribuna. Isto demonstra
que naquele caso houve vontade política e não intolerância com a presença dos
manifestantes, não comprometendo a segurança das pessoas e das instalações,
alvo da presença da Guarda Municipal. Em dado momento da sessão de ontem, os
assessores de vereadores foram também impedidos de entrar ou sair da sala na
frente dos elevadores.
- O autoritarismo em
todo esse processo de votação se deu também na tentativa de impedir a
manifestação, em uma realidade na qual a população de Florianópolis, pela falta
de planejamento sério da cidade, há dias enfrenta falta de água, de luz e o
caos no transporte e inutilmente liga para órgãos públicos exigindo
providências. Lamentável que as cenas da
votação mostradas em vídeos e fotos nas redes sociais lembrem o período da Ditadura
Militar, enquanto o prefeito viaja para a Disney... Agora a pressão é pelo veto do Executivo, até porque há várias emendas aprovadas que contrariam lutas das comunidades e também incongruências do projeto, como emendas ora aprovadas ora rejeitadas (caso de emendas que afetam Coqueiros e Estreito, como já mostramos).
- O ano que chega, portanto, será de muito estudo, debate, mobilização
e luta.
Tamos na luta, professor! Continue assim, do nosso lado!
ResponderExcluirIndignada Atenta
ResponderExcluirEm pleno 2014 vivemos atitudes da ditadura militar por parte de governantes e do parlamento,uma imprensa omissa que não vai a fundo nas questões que estão em jogo para a vida da cidade, dando ênfase aos atritos conjunturais de plenário sem se deter no que gera a indignação tanto de parlamentares quanto da população. População esta que não se rendeu as manobras de uma votação em período de festas e férias e se fez presente e ao invés de acolhida é repulsada pelos que se escondem atrás da Guarda Municipal para proferirem suas maracutaias e transformarem Floripa num caos, desde que seus bolsos estejam cheios. E ainda querem que a população assista calada, amordaçada a esta manobra. Qualquer semelhança com a ditadura não é mera coincidência, são os ditadores querendo manter seu poder a todo preço, e que preço !